terça-feira, 19 de agosto de 2014

As pernas de Úrsula, de Claudia Tajes

Em busca de algo curto para ler, acabei me deparando com As pernas de Úrsula, da gaúcha Claudia Tajes. Com a promessa de uma visão bem humorada do cotidiano, me lancei a essa leitura de algumas horas.


A proposta de Tajes é a seguinte: o narrador, casado e com um filho de quatro meses, conta como se apaixonou pelas pernas de uma desconhecida. Por bem ou por mal, o que falta à escrita da autora é ambição. A leitura se sustenta, todavia, por meio de um humor ágil e constante; e não posso deixar de notar a escrita competente de Claudia Tajes.

O primeiro dos vinte e cinco capítulos do livro se centra na premissa citada. A partir do segundo se reconstrói o caminho que leva o narrador até aquele momento. Embora a trama se estenda por anos, não há momentos memoráveis. O protagonista se prova uma pessoa bem humorada e de uma ironia por vezes surpreendente. Contudo, não me apeguei muito a ele. Mesmo que a trama suscite em torno dele temas como: casamento, filhos, adultério, solidão, virilidade, desencanto, aborto etc., somente algum deles marcam o leitor.

Contudo, a obra se mostra boa por um rol de personagens secundárias que, por muitas vezes, me interessaram muito mais que o narrador; em especial as mulheres. Há uma mãe muito dona de sua sexualidade independente da velhice em curso; uma esposa desprezada que encontra no divórcio o florescimento pleno das relações amorosas; a mulher poderosa que estava a fim de uma transa e nada mais. Elas dão cor à narrativa, e até mesmo a esposa do narrador mostra, em uma construção que preza os detalhes, uma força um tanto quanto inesperada.

As pernas de Úrsula não é um livro que ambiciono reler, tão pouco é um livro que não gostei de ler. Cheguei a rir bastante em alguns trechos. O final guarda aquele tom de clímax, mesmo que o caminho trilhado até ali, que é de razoável consistência, não seja dos mais interessantes. Em questão de nota, três de cinco me parece justo. Em suma, recomendo como leitura despretensiosa; e não ficaria triste se reencontrasse a autora entre as leituras da vida.