terça-feira, 30 de setembro de 2014

Divagações (2)

Hoje qualquer analfabeto funcional acha que pode virar escritor... Vivo dizendo isso ao espelho, mas até hoje ele ainda não captou o recado.
Homem que diz que não gosta de mulher rodada não está a procura de uma dama, mas de três minutos de sexo e uma ligação no dia seguinte.
Quem diz que a vida é bela a uma pessoa que sofre de depressão, e quem diz como é bom não sofrer de AIDS a alguém que porte o vírus HIV são de igual insensibilidade, ignorância ou senso de humor negro.
Chamar a esquerda (que é politicamente incorreta) de politicamente correta é uma ironia politicamente correta vinda dos politicamente incorretos, que na verdade são politicamente corretos.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Divagações

É uma e meia da manhã e o sono não vem. Corri nove quilômetros e o sono não vem. Tomei uma xícara de café, mas esta porra não é tão potente assim; ou é? Cafeína vicia... Se eu sou uma vítima desse vício? Não sei.
Passei o dia lendo. Artigos e mais artigos acerca de movimentos sociais, racismo, homofobia, feminismo etc. Sou um pesquisador compulsivo. Que proveito tirei disso tudo? A reflexão. Não há um livro que se chama Amor, verbo intransitivo? Por que não um Pensar, verbo intransitivo? Penso, logo existo é o caralho, Descartes – momento mais pseudo-intelectual deste blog até o momento.
Também assisti ao documentário A Risada Dos Outros, do Pedro Arantes. Bom filme: alimenta a culpa a fim de prover a reflexão. Olha o termo aí de novo. Se a filosofia começou com um tal de Só sei que nada sei, o que os filósofos andaram fazendo nestes últimos milênios para que eu ainda só saiba que nada sei? A culpa não é deles, eu que deveria estudar mais. Mas quando saberei que estudei o suficiente para falar, com convicção, que só sei que nada sei? Se questionar algum filósofo (desses que você tem certeza que já estududaram o suficiente para saberem que nada sabem), ele só te diz que só sabe que nada sabe. O puto não estará te sacaneando, ele só aprendeu a lição bem direitinho.
Já deu, certo gente? Vamos pagar a conta e ir embora. Mas, antes, um aforismo: “Mata um homem e adote um cachorro; este pelo menos sabe abanar o rabo.”

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Sandra, a loura

Situação hipotética: inventou-se uma máquina que aumenta a inteligência dos indivíduos.
Carlos, amigo de Sandra, a loura, lê a notícia no jornal e corre avisar a amiga.
Carlos: Sandra, olha aqui! Inventaram a solução dos seus problemas!
Sandra, a loura, pega o jornal e lê a notícia, mas parece desinteressada.
Sandra: Carlos, inteligência e senso de humor não são a mesma coisa.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Sexo, matemática e prevenção

Navegando pelo site da Carta Capital, li um artigo sobre aborto escrito pela Clara Averbuck. Nele faz-se referência a um estudo publicado no jornal do New York Times, no qual se analisa a probabilidade de uma mulher engravidar durante o uso, por uma década, de um determinado método contraceptivo.
A própria matéria do NY Times menciona o fato de que, mesmo que o risco de uma ação acontecer (gravidez, no caso) seja muito pequena, a repetição dela no tempo aumenta a probabilidade de falha.
Como exemplo, o uso da camisinha masculina durante dez anos gera 86 grávidas a cada cem mulheres.
Outro detalhe probabilístico não mencionado é que o uso de dois métodos concomitantemente diminui a chance de falha. Minha namorada e eu tínhamos (estou solteiro no momento) como estratégias contraceptivas a pílula e a camisinha masculina. Nas aulas de matemática da escola se ensina que a probabilidade de dois eventos independentes acontecerem é a multiplicação entre as probabilidades de cada um. Se a chance da camisinha masculina falhar, no decorrer de dez anos, são 86%, e da pílula, 61%; a chance de ambas falharem, quando usadas juntas, é de 0.86 x 0.61 x 100%, isto é, 52,46%.
Vale notar que os valores altos apontados buscam descrever um uso típico dos métodos, isto é, a forma desleixada que as pessoas se agarram aos milagres da ciência esquecendo-se que tudo que é mal feito não gera os melhores resultados.
O uso perfeito da camisinha, durante dez anos, tem 18% de chance de falha, e a pílula, 3%. A probabilidade de ambas falharem seria 0.18 x 0.03 x 100%, o que dá uma probabilidade de 0,54% de ocorrer uma gravidez indesejada.
Usar os métodos contraceptivos de forma perfeita é algo difícil, contudo, a melhora advém da prática. Sexo é bom. Sexo seguro, melhor.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Antifeminismo (leia-se outra corrente do feminismo)

Hoje assisti There Will Be Blood, de Paul Thomas Anderson. Após terminar o filme, o que primeiramente me passou pela cabeça foi: por que demorei tanto para conhecer a cinematografia do Anderson? Em suma, o filme é excelente. Contudo, o que me põe os dedos ao teclado não é somente um comentário superficial acerca de um filme de 2007.
Enquanto ouvia Bach, distraidamente, e passava os olhos por notícias desinteressantes no site da Folha de S.Paulo, me deparei com a seguinte pauta: Mulheres usam redes sociais para contestar bandeiras do feminismo. Li a matéria (e recomendo que os leitores façam o mesmo) e anotei as bandeiras que mais me chamaram a atenção: vitimização da mulher e intolerâncias religiosas e sexistas.
No próprio texto da Folha, referencia-se o fato de que questionamentos ao complexo de vítima dentro do feminismo não é algo recente. Limito-me, porém, a tomar a ideia de vitimização da mulher, dentro do movimento Women Against Feminism, como uma reação à luta por direitos da mulher na contemporaneidade. Explico-me: no Ocidente tem-se uma notável igualdade constitucional entre os gêneros, então, qual a razão de ser do feminismo atualmente? Dado o fato que vivemos em uma utopia onde as leis (e seus devidos cumprimentos) e as relações humanas se complementam, ao invés de se degladiarem, é realmente difícil entender essas feministas (feminazistas).
Quanto às intolerâncias do feminismo, novamente, a própria matéria da Folha traz dois comentários interessantes. Primeiro, o feminismo, como movimento intelectual sério que é, é objeto de ampla ignorância do grande público (quem nunca ouviu o comentário “não sou feminista. Eu sou amiga dos homens”?); segundo, o feminismo, como movimento intelectual sério que é, possui diversas correntes de pensamento – existem feminismos.
Não expresso aqui uma defesa integral do feminismo, afinal, todo movimento deve receber críticas; caso contrário, deixaria de ser um movimento. Contudo, a satisfação de muitas mulheres com o contexto sócio-político em que vivem me gera grandes questionamentos. Acabo este texto por aqui, ao deixar mais uma referência importante: o tumblr do Women Against Feminism.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Colocando a carreira nos trilhos

Em minha última postagem, Arte e conscientização, comentei o ótimo longa Dallas Buyers Club (2013), de Jean-Marc Vallée. Volto ao filme, mas, desta vez, meu intuito é comentar a carreira de Matthew McConaughey.
Muitos devem conhecer o ator de suas comédias românticas que são esquecíveis. Todavia, nos últimos anos McConaughey tem posto seu potencial a serviço de obras mais marcantes. Como, por exemplo, o próprio longa do Vallée.
Minha primeira experiência com um filme do reencaminhado Matthew McConaughey foi Killer Joe (2012). Filme muito bom de William Friedkin acerca de uma família cujas peripécias causam ao telespectador uma vontade de tomar banho ao sair da sessão (assistam e entendam).
O trabalho do ator que mais me agradou, ironicamente, não foi um filme; mas uma série. True Detective tem como premissa a retomada das investigações acerca de um antigo homicídio. Os principais envolvidos nos acontecimentos passados são Rust Cohle (McConaughey) e Marty Hart (Woody Harrelson), dois detetives aposentados. O argumento, ambientação e direção da série são excelentes; de forma que a recomendo muito.

Protagonistas da série True Detective

Com dois bons filmes e uma ótima série citados, creio que já expressei minha admiração pelas atuações mais recentes de McConaughey. Além do mais, notar um caso positivo de reestruturação de carreira é sempre bom.

domingo, 21 de setembro de 2014

Arte e conscientização

Ontem assisti ao ótimo filme de Jean-Marc Vallée, Dallas Buyers Club (2013); ou, no Brasil, Clube de compra Dallas. A história discorre acerca de um eletricista que se vê como portador do vírus HIV e como ele, mesmo em toda sua ignorância e preconceitos, torna-se uma notável figura na busca da humanização dos que, como ele diz, estão casados com o mesmo vírus que ele.

Matthew McConaughey interpretando o protagonista do filme, Ron Woodroof. Sua atuação lhe garantiu a estatueta do Oscar por melhor ator.

Como não quero estragar a experiência cinematográfica de ninguém, não me estenderei a mais acerca do filme. O que me põe os dedos sobre o teclado, na verdade, é uma reflexão que me ficou ao fim do longa.

O provável é que a maioria dos leitores já teve, em seus tempos escolares, campanhas de conscientização acerca da AIDS. Palestrantes argumentavam como devíamos usar camisinha et cetera e tal. Fatos estes que eu já conhecia muito bem antes de a escola julgar que seus jovens estavam preparados para ouvirem sobre sexo. O ponto é: quão eficiente seria, quando comparada à estratégia comum das escolas, a exibição de um filme como o de Vallée a adolescentes que estão às portas (quando já não puseram um ou dois pés) da vida sexual?

O interessante é que não é a primeira vez que me questiono algo nessa linha. Quando assisti Requiem for a dream (2000), do Darren Aronofsky, também me questionei se este filme seria uma boa campanha antidrogas.

Antes que alguém chegue à incorreta conclusão de que proponho uma reforma educacional ou algo do tipo, não, esse não é meu intuito. Este texto, na verdade, é carente de propostas. Tenho plena noção de que os dois longas citados não são os mais leves possíveis, em muito sentidos. Em suma, o que importa é a reflexão; não somente acerca das políticas de conscientização das escolas, mas, também, a respeito da influência que a arte pode ter sobre os jovens.